segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

FORNOS/TELHA DE CANUDO



FORNOS/TELHA DE CANUDO- Recordações

Nestas andanças pela blogosfera, há dias, vi uma referência aos fornos de telha que havia na Laganhosa, da freguesia de Tó-Mogadouro, a minha terra…
Esse facto trouxe-me à memória o fabrico de telha de canudo que ali era praticado:
Eu era uma criancinha de poucos anos, mas lembro-me quase em pormenor dessa actividade.
Os meus pais, para além dos moinhos na ribeira, que depois foram substituídos por uma moagem, agora em ruinas, na sede a freguesia, detinham inicialmente um forno de cozer telha, precisamente na Laganhosa.
Havia um outro que penso ser dos meus avós maternos, mas que nunca vi funcionar e um outro que era dos Aragões.
O meu pai construiu ou mandou construir um outro, num terreno que ali possuía e que mais tarde foi destruído, quando findou esta actividade.

O fabrico de telha era como é óbvio, efectuado no verão:
O barro para o efeito era colhido, se bem me recordo, nuns barreiros existentes junto do cruzamento de Tó e em outros locais. Era levado para a Laganhosa, onde, em terreno público havia uns barreiros, uma espécie de piscinas, cavados na terra. O barro era ali depositado e depois de amolecido durante alguns dias era pisado com juntas de vacas, até ficar uma pasta consistente e moldável.
Era então que entravam em acção os “artistas”: Lembro-me, sobretudo, do meu irmão Domingos. Num atelier improvisado (buraco no chão) havia uma prancha inclinada aí a 45º. Sobre ela era colocada uma forma em ferro com a parte exterior da grossura a que a telha havia de ficar; pulverizava-se essa prancha com cinza, para o barro não agarrar; colocado ali o barro era estendido por toda a forma com uma espécie de rolo. De seguida arrastava-se, sem levantar, para cima do “galapo” (artefacto de madeira com um cabo e arredondado na forma da telha) que era transportado, normalmente por raparigas, para uma espécie de eira, onde outro “artista” depositava a telha e retirava o galapo e onde a telha ficava a secar.
Chamava-se à tarefa das raparigas: “andar ao galapo”.

Depois de alguns dias a secar a telha era levada para os fornos, onde era depositada, ao alto e em camadas.
Cheio o forno, era, então, ateado fogo queimando-se enormes quantidades de lenha, previamente transportada para o local.
Depois de cozida e arrefecida era desenfornada para se voltar a repetir a mesma tarefa.
Não havia tempo a perder, pois este trabalho só podia ser feito no Verão.

Esta actividade acabou com o surgimento da “telha marselha”, mais ou menos plana que ainda se vê em alguns telhados.

Já há muitos anos que não vou à Laganhosa, local que era uma beleza se tivesse sido aproveitado e preservado para memória futura… Ao invés disso, a última vez que ali passei, vi que destruíram o vale e fizeram uma “charca” (?) ou lá o que isso é.
Dos fornos nada sei, pois embora fossem propriedade privada, nada me custa a crer que também tenham sido destruídos… O mesmo que fizeram ao canal que alimentava um chafariz que servia de bebedouro para o gado passando-lhe com uma máquina por cima. Lamentável…
Tenho pena, mas não tenho fotografias do local e de certeza que já lá não vou recolhê-las…

Sejam FELIZES


1 comentário:

Manoel Reis disse...

No Brasil conhecida como telha romana